No primeiro debate televisivo para as legislativas antecipadas de 18 de maio, na TVI, parte do debate concentrou-se nas dúvidas sobre a empresa da família do primeiro-ministro, que estiveram na base de uma moção de censura do PCP, chumbada, e da moção de confiança apresentada pelo Governo, cuja rejeição ditou a sua demissão e a convocação de eleições antecipadas para 18 de maio.
O secretário-geral do PCP disse "não ter dúvidas" de que Montenegro esteve numa "situação de incompatibilidade e de confusão entre interesses pessoais e do Governo" e a considerar que a "atitude mais nobre" teria sido a demissão, em vez da "fuga para a frente".
"Mesmo do ponto de vista ético, não há nada que se possa imputar à minha conduta (...) Não é verdade que eu tenha usufruído de qualquer benefício de nenhuma empresa enquanto exercia as funções do primeiro-ministro ou líder do PSD", respondeu Montenegro, desafiando Paulo Raimundo a apontar-lhe uma decisão política que possa ter sido influenciada pela sua vida profissional.
"Nós não temos dúvidas. Nós temos certezas. A situação que criou é incompatível com as funções que tem (...) Não venha fazer comigo uma coisa que tem estado a tentar fazer, mas comigo não, por favor. É a vitimização", respondeu o líder comunista.
Durante o debate de cerca de 30 minutos, os dois discordaram sobre as soluções para o setor da saúde, defesa e quanto à descida feita pelo atual Governo PSD/CDS-PP da taxa de IRC de 21 para 20%.
Sobre a descida deste imposto sobre as empresas, Paulo Raimundo calculou que a perda de receita daria para, em quatro anos, pagar "uma das urgências nacionais: uma rede pública de creches", com Montenegro a ripostar que a receita aumentou, embora admitindo que o efeito da descida só se sentirá este ano.
"Nós tínhamos inscrito no Orçamento de 2024, pelo PS, uma receita do IRC na casa dos 8 mil milhões de euros. Sabe qual foi a receita do IRC com base no crescimento e no desempenho económico? Foram mais de 10,2 mil milhões de euros. Ou seja, quando nós temos uma economia competitiva e que cria riqueza, nós superámos, em mais de 2 mil milhões de euros, a estimativa da receita do IRC", afirmou.
Na área da saúde, o primeiro-ministro admitiu dificuldades no cumprimento da promessa de atribuição de médico de família a todos os portugueses, mas assegurou que ela continuará a fazer parte do programa da AD.
"Vamos renovar a promessa e vamos renovar o esforço para a poder cumprir", disse, apelando a que "não se levantem fantasmas" sobre a centralidade do SNS no programa da AD.
Paulo Raimundo confrontou o primeiro-ministro com as sete urgências pediátricas fechadas no passado fim de semana e defendeu que só a valorização dos salários dos profissionais de saúde permitirá atrair os recursos que estão atualmente no setor privado.
Já na área da defesa, o secretário-geral do PCP recusou qualquer aumento de "dinheiros públicos na guerra" -- apenas nas Forças Armadas -, recursos que deverão ser usadas "a construir comboios ou a produzir medicamentos".
"Nós também não trocamos as políticas sociais para o investimento em defesa. São duas coisas cumulativas. Nós, quando apoiamos, por exemplo, a Ucrânia, apoiamos a defesa dos direitos humanos, apoiamos a democracia", afirmou o primeiro-ministro.
Paulo Raimundo apenas elogiou o Governo num aspeto: na capacidade de fazer propaganda, dando "os parabéns à sua agência de comunicação", que o líder do executivo disse não ter, mas com Montenegro a deixar-lhe uma provocação.
"Um governo que estabeleceu acordos de valorização das carreiras de 17 áreas da administração pública... Eu vou-lhe dizer uma coisa: é cada vez mais difícil até para um comunista não votar na força política que está a liderar a governação", ironizou.
[Notícia atualizada às 22h11]
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