"As grandes exposições do setor bancário justificam uma monitorização rigorosa", lê-se no documento, publicado na terça-feira e consultado hoje pela Lusa.
"Com base nos últimos testes de 'stress' e nos dados mais recentes, até setembro de 2024, o sistema bancário parece ser resiliente a choques simples, mas vulnerável ao risco de concentração de carteira e com elevada exposição ao [risco] soberano - através do mercado de dívida interna e empréstimos a empresas públicas e privadas com garantias públicas", indicou o fundo.
O crédito malparado "aumentou para 11% do total de empréstimos no terceiro trimestre de 2024, face aos 8,3% do primeiro trimestre, em grande parte devido às empresas estatais deficitárias", sendo que algum desse incumprimento "tem garantias públicas, o que pode gerar custos fiscais".
O FMI recomendou que o Banco de Cabo Verde (BCV) utilize "ferramentas de supervisão e medidas macroprudenciais para combater o crédito malparado, como primeira linha de defesa".
No final de setembro de 2024, os sete bancos do sistema "detinham ativos equivalentes a 126,4% do Produto Interno Bruto (PIB)" do arquipélago "e dois bancos nacionais sistemicamente importantes respondiam conjuntamente por uma grande fatia dos ativos e depósitos totais do setor", informou.
"De um modo geral, o sistema bancário parece ser resiliente ao risco de liquidez", mas os riscos da "elevada dependência do sistema bancário em relação aos depósitos do Instituto Nacional de Previdência Social (INPS) podem criar preocupações de liquidez para alguns bancos, dependendo do comportamento do INPS", acrescentou o FMI.
Neste contexto, o fundo anunciou estar a planear uma missão de assistência técnica ao país, relacionada com questões macroprudenciais.
O relatório do FMI é o mais recente a abordar alertas que também já foram feitos pelo banco central.
Em outubro, o BCV indicou que "o reforço da situação patrimonial, financeira e prudencial do setor bancário tem contribuído para a manutenção da estabilidade do sistema financeiro", mas houve uma "deterioração da qualidade da carteira de crédito, com o rácio de 'Non Performing Loans (NPL, sigla inglesa para crédito malparado) a alcançar os dois dígitos".
O BCV indicou ainda manter-se uma "elevada concentração ao risco de crédito e de liquidez", bem assim como "uma significativa exposição ao risco soberano".
O FMI recomendou também a Cabo Verde uma subida do rácio de reservas mínimas exigidas aos bancos, por forma a absorver liquidez e travar saída de ativos, em linha com as medidas do banco central.
"O sistema bancário de Cabo Verde apresenta um excesso substancial de liquidez", atribuído, "em parte, à redução do rácio de reservas mínimas exigidas" de 13% para 10%, "à injeção de liquidez adicional a longo prazo durante a pandemia da covid-19 e à falta de oportunidades de empréstimos internos", lê-se no documento.
Aumentar gradualmente os requisitos de reserva, considera o Fundo, pode levar "a um aumento das reservas internacionais, reforço da estabilidade financeira de forma mais estrutural e à melhoria no mecanismo de transmissão da política monetária".
A próxima reunião do Comité de Política Monetária de Cabo Verde está prevista para 25 de fevereiro.
O BCV reduziu as principais taxas de juro em 50 pontos base, desde janeiro, continuando a aproximação à zona euro, para tornar menos atrativa a saída de divisas -- depois de em novembro ter decidido um aumento de 25 pontos base.
A taxa diretora (TRM) está atualmente em 2,25%.
O relatório do FMI detalha as mais recentes avaliações aos dois programas a decorrer em Cabo Verde e que, em novembro, mereceram "luz verde" para novos desembolsos.
No caso, tratou-se da quinta (e penúltima) avaliação da Linha de Crédito Ampliada (ECF) permitindo o desembolso de aproximadamente 5,88 milhões de dólares (5,59 milhões de euros) e a segunda avaliação do Financiamento para a Resiliência e Sustentabilidade (RSF), equivalendo à transferência de cerca de 3,44 milhões de dólares (3,27 milhões de euros).
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