Extrema-direita alemã sonha em governar após resultado histórico

A extrema-direita alemã obteve um resultado recorde nas eleições gerais de hoje, estabeleceu-se como uma força a ter em conta no panorama político e declarou o desejo de fazer parte do próximo governo com os conservadores.

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© RALF HIRSCHBERGER/AFP via Getty Images

Lusa
23/02/2025 19:19 ‧ há 3 horas por Lusa

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Alemanha/Eleições

"Nunca fomos tão fortes a nível nacional", disse, em Berlim a candidata à chancelaria da Alternativa para a Alemanha (AfD), Alice Weidel, a figura dominante durante toda a campanha eleitoral.

 

A candidata saudou um "resultado histórico", no meio de ativistas que agitavam bandeiras tricolores pretas, vermelhas e douradas e corações azuis (a cor da AfD) com a inscrição "Alice für Deutschland" (Alice pela Alemanha).

Os detratores do partido consideram que este slogan se aproxima perigosamente de outro proibido da milícia nazi SA, "Alles für Deutschland" (Tudo pela Alemanha), e denunciam o que consideram ser um sinal enviado por Alice Weidel à ala revisionista mais radical do movimento.

Apoiada pelo Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a AfD obteve entre 19,5% e 20% dos votos, segundo as estimativas das televisões, e, ao duplicar o resultado em relação às eleições de 2021 (10,4%), confirma a sua posição num país até agora menos inclinado ao nacionalismo identitário do que os seus vizinhos europeus, devido ao seu passado nazi.

Mas o movimento não tem intenção de ficar por aqui, tendo Alice Weidel declarado, imediatamente, a ambição de fazer parte do próximo governo, ao lado dos democratas-cristãos de Friedrich Merz, que ficaram em primeiro lugar com quase 30% dos votos, mas que a excluíram de qualquer aliança.

"A nossa mão estará sempre estendida para participar num governo e cumprir a vontade do povo", disse Weidel, afirmando, nomeadamente, que pretende 'fechar as fronteiras' aos estrangeiros e baixar os impostos.

Fundada em 2013 por eurocéticos, a AfD radicalizou-se profundamente ao longo dos anos, tornando-se um partido anti-migrante, pró-russo e cético em relação ao clima e alguns dos seus dirigentes não hesitam em banalizar o nazismo.

Este questionamento da cultura de arrependimento do país foi recentemente encorajado pelo bilionário norte-americano Elon Musk: "As crianças não devem ser culpadas pelos pecados dos seus... avós", disse o conselheiro próximo de Donald Trump numa reunião da AfD, no final de janeiro.

Há dez dias, na cimeira de defesa de Davos, em Munique, o vice-presidente norte-americano, JD Vance, concedeu uma entrevista a Alice Weidel, e desprezou o chanceler alemão Olaf Scholz. Acima de tudo, instou os partidos políticos alemães a deixarem de ostracizar a extrema-direita no Governo.

A AfD viu os seus temas preferidos, a imigração e a insegurança, serem colocados em primeiro plano na campanha eleitoral, após uma série de atentados assassinos cometidos por estrangeiros na Alemanha.

"As pessoas estão fartas. Não estão satisfeitas com a política dos partidos tradicionais porque os preços estão a subir [...] e as pessoas estão muito assustadas depois da série de ataques", disse à agência noticiosa France-Presse (AFP), Karin Kuschy, uma reformada de 63 anos e eleitora da AfD em Berlim.

Esta situação levou o líder dos conservadores, Friedrich Merz, a unir forças com a AfD no final de janeiro para fazer aprovar uma resolução não vinculativa que limita a imigração.

Esta quebra do "cordão sanitário" anteriormente estabelecido pelos partidos tradicionais em relação à extrema-direita levou centenas de milhares de pessoas às ruas, "mostrando como a resistência à AfD ainda é forte", sublinhou o professor Wolfgang Schroeder, da Universidade de Cassel, em entrevista à AFP.

No entanto, durante a campanha eleitoral alemã, assistiu-se a um processo de "normalização" da extrema-direita, ilustrado sobretudo pela participação de Alice Weidel em vários debates televisivos com os outros grandes partidos.

Alice Weidel também quebrou o seu isolamento europeu ao comparecer em Budapeste, a 12 deste mês, com o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, pró-Rússia.

Leia Também: Conservador Merz quer formar rapidamente coligação de governo na Alemanha

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