O Congresso Nacional da Juventude Popular (JP) realiza-se nos dias 22 e 23 de fevereiro de 2025, quando será decidido quem vai assumir a liderança da juventude partidária do CDS-PP. Enide Menezes Seixas é candidata e apresenta-se sob o mote 'O Motivo é Portugal'.
Membro da atual Comissão Política Nacional, desenhada por Francisco Camacho, atual líder da JP, quer levar uma "nova abordagem de se fazer política" para a jota, num projeto contra o "politicamente correto" e "sem medo de represálias".
Embora tenham sido precisos 50 anos para que uma mulher se candidatasse à presidência da JP, Enide Menezes Seixas defende, em entrevista ao Notícias ao Minuto, que não é essa a "notícia" e que se trata de uma "discussão ultrapassada". "As mulheres valem por si", destaca.
Entende como "bacoco e um pouco demagógico" o debate em torno da Interrupção Voluntária da Gravidez (IVG) e considera que é preciso falar de "medidas para a vida". Defende, por isso, que "tem de haver um reforço, uma proteção por parte do Estado, à mulher que quer ser mãe em Portugal".
Um dos temas em destaque na moção que apresentará no Congresso diz respeito à imigração, que diz estar "desregulada", e "à defesa da portugalidade". "Olhamos para as nossas cidades e vemos uma descaracterização daquilo que é a portugalidade. Queremos garantir que quem vem viver para Portugal vive de acordo com o nosso modo de vida, que respeita a nossa cultura, que respeita a nossa lei", afirma, na mesma entrevista.
Recusa estar colada à extrema-direita, declara um combate "à cultura do 'wokismo'", e diz que esta "é a geração da Juventude Popular". Sobre o CDS-PP, rejeita que o partido se "afunile" nas "caras mais conhecidas" e entende que os centristas estão "garantidos" com uma "juventude tão forte".
Além de Enide Menezes Seixas, também Catarina Marinho apresentou a sua candidatura à liderança da JP.
Estamos fartos desta cultura do politicamente correto, desta cultura do 'wokismo' que parece que se instalou em Portugal. E com a minha candidatura, com o meu projeto e com a minha equipa, queremos estar na linha da frente nesta dianteira, neste combate, sem medo de represálias
Fala do seu projeto como um ponto de viragem na história da Juventude Popular e diz-se pronta para a tornar na "verdadeira casa da direita" em Portugal. Porque é que a atual juventude partidária do CDS-PP não é esta "casa da direita" que quer alcançar?
Bem, eu acho que nós somos a casa direita dos jovens em Portugal. Somos atualmente, fomos no passado. Somos a juventude da direita em Portugal, claro que sim. Mas passámos por uma fase muito complicada, tanto do partido como da juventude, e sabemos que agora é um ponto de viragem. Nós materializamos, demonstramos ao país que fazemos muita falta, que é algo que sabemos, mas que é necessário que se saiba também lá fora. Portanto, esta campanha surge com o mote principal que é 'política de proximidade e ganhar o Congresso para conquistar o país'. E quando digo que é o ponto de viragem é porque estamos fartos desta cultura do politicamente correto, desta cultura do 'wokismo' que parece que se instalou em Portugal. E com a minha candidatura, com o meu projeto e com a minha equipa, queremos estar na linha da frente nesta dianteira, neste combate, sem medo de represálias. Dizer verdadeiramente aquilo que pensamos, aquilo que a Juventude Popular defende, que algumas das vezes, e devido também à condição política que tivemos recentemente, não foi o nosso foco. O nosso foco foram outras temáticas, que na altura também foram muitíssimas importantes. Para mim, o foco daqui para a frente será este combate social à cultura do 'wokismo' , será a materialização daquilo que sabemos o que somos cá dentro, que é a casa da direita em Portugal, a única juventude com capacidade de resposta aos jovens de direita, isto sempre foi a nossa matriz, isto sempre foi a prioridade.
Não faço uma crítica à atual Comissão Política Nacional, eu integro-a, faço é uma nova abordagem de se fazer política na Juventude Popular
Entendo nas suas declarações algumas críticas, nomeadamente que há alguma dificuldade na JP em ser-se direto sobre aquilo que se pensa e em afirmar essas ideias. Quais são os principais desafios na estrutura? Podemos começar já por este.
Não, não é isso que acho. Isto não é uma crítica, até porque eu faço parte da atual Comissão Política Nacional. Não é uma crítica, eu tenho uma nova abordagem. Se eu quisesse manter a mesma abordagem, não me candidatava. Aquilo que venho propor ao país e acima de tudo à minha estrutura, da qual sou militante, é uma nova forma de se fazer política. Se realmente fosse uma crítica, tinha-me demitido da Comissão Política Nacional. Eu faço parte de um projeto, encaro-o com bastante nível de compromisso, o compromisso que quero reforçar nesta candidatura.
Os principais desafios acho que são os mesmos há algum tempo, mas, desta vez, queremos resolvê-los com uma abordagem diferente. Temos um problema, que para mim é o foco também, e a JP tem de estar na linha da frente: o que defendemos cá dentro tem de passar lá para fora. Temos de falar para fora daquilo que é a bolha política. Nós queremos atrair os jovens à política. Aquilo que quero mudar é o paradigma. Nós é que temos que ir de encontro aos jovens. nós é que temos que estar presentes onde estão os jovens. E, acima de tudo, uma política que não é uma política bege, uma política que é uma política consolidada, fundamentada, sem demagogia, com respostas com profundidade.
A verdade é que a política em Portugal não é a primeira opção para os jovens, porque a política está conotada a uma nuvem cinzenta, por assim dizer, e nós queremos desmistificar esta nuvem cinzenta. Queremos abrir portas à juventude em Portugal e dizer que é na JP que se pensa o futuro do país, que é na JP que respondemos aos problemas do dia a dia dos jovens, que é aqui que vão encontrar uma solução. Temos de reforçar o nosso contacto com as nossas estruturas, política de proximidade, temos de dar autonomia às nossas concelhias. Portanto, os modos são claros, é descentralizar o poder interno, é falar lá para fora, é simplificar a mensagem, é responder aos problemas do dia a dia e é voltar a ser aquilo que sabemos que somos cá dentro: a casa da direita em Portugal para os jovens de direita em Portugal. Portanto, eu não faço uma crítica à atual Comissão Política Nacional, eu integro-a, faço é uma nova abordagem de se fazer política na Juventude Popular.
Admitindo, obviamente, que há coisas a melhorar.
É claro que sim, eu acredito que há sempre espaço para melhorar na política, há sempre espaço para melhorar na JP, nós somos conhecidos por isso, a cada mandato inovamos, a cada mandato transformamos aquilo que é o nosso objetivo, e é por isso que o meu slogan é 'O motivo é Portugal', porque quem faz política tem que o fazer pelo país. Há sempre espaço para melhorar e acho que há muito para melhorar a nível de estrutura interna. Portanto, é desafiar os cânones, nós nunca fomos uma juventude instalada e esta candidatura, tal como eu digo na moção, é a candidatura de quem não se instala na Juventude Popular, porque nós sabemos que o nosso objetivo é muito concreto. É muito difícil, mas eu acredito que o vamos materializar, que é afirmarmos como a maior juventude de direita do país.
Eu acredito muito que o que é relevante são pessoas que através do seu mérito e do seu trabalho chegam a cargos de desfia e decisão. Eu sou mulher, mas não acho que o facto de eu ser mulher tenha de ser a notícia
Catarina Marinho, que é sua adversária, destaca muito o facto de ser a primeira vez, em 50 anos, que há mulheres candidatadas à liderança da Juventude Popular. A Enide não faz disso uma bandeira. Não considera relevante?
Eu acredito muito que o que é relevante são pessoas que através do seu mérito e do seu trabalho chegam a cargos de desfia e decisão. Eu sou mulher, mas não acho que o facto de eu ser mulher tenha de ser a notícia. O que eu acho que tem que ser a notícia é que 'O Motivo é Portugal' e Enide Menezes Seixas é candidata e apresenta uma visão para a economia e para o emprego, uma visão para a cultura e a identidade, uma visão para a imigração, uma visão para a agricultura, uma visão para a descentralização e uma visão para aquilo que é a estrutura interna. Acho que isto sim tem de ser notícia. Acho que tem der ser notícia haver mais do que uma candidata, mais do que uma candidatura, porque demonstra que a estrutura está viva, que a estrutura tem pensamento que, apesar de ser diferente, convergimos todos na mesma casa. Acho que este movimento de vida política ativa da JP tem de ser notícia.
Sou completamente solidária com a luta, eu sou mulher, mas nunca senti na minha estrutura esse fator do machismo ou esse fator do condicionamento de assumirmos cargos de chefia ou decisão
Mas falamos de 50 anos, foram precisos 50 anos para surgir uma mulher. E note-se que há pessoas do CDS-PP que já admitiram que a política pode ser machista. Não considera que é um tema que merece ser trazido para o panorama político nacional de que, finalmente, temos não uma, mas duas mulheres a concorrer à liderança da JP?
Claro que sim. Acho que cada caso é um caso e cada realidade é uma realidade diferente. Realmente, é uma verdade, na política nacional sempre houve muitos mais homens em cargos de chefia e de decisão do que mulheres, isto é uma realidade. Eu, pessoalmente, nunca tive essa condicionante na minha vida partidária na Juventude Popular nem do CDS. Sempre integrei equipas e sempre trabalhei com pessoas que me respeitavam, assim como acho que deve ser, por aquilo que valho, por aquilo que é o meu pensamento, por aquilo que é o meu trabalho. Portanto, sempre fui educada e sempre acreditei num país e numa sociedade em que cada pessoa vale por si, vale pelo seu mérito e vale pelo seu contributo. Para mim, ser mulher não é condição nenhuma, as mulheres valem por si. Portanto, eu não acho que seja através das cotas, não acho que seja através destas notícias, talvez do 'clickbait'. Acho que o caso é muito mais profundo, tem de se perceber o porquê de realmente serem agora, só agora, 50 anos depois, duas mulheres. Talvez porque não houve na altura o interesse, não se proporcionou. Acho que neste momento está-se a proporcionar duas mulheres porque, efetivamente, tanto eu como a Catarina, reunimos, de forma individual, condições, capacidades para sermos candidatas e uma de nós será a futura presidente da estrutura. Percebo, sou completamente solidária com a luta, eu sou mulher, mas nunca senti na minha estrutura esse fator do machismo ou esse fator do condicionamento de assumirmos cargos de chefia ou decisão, até porque todo o percurso que fiz, fi-lo sempre com o maior dos meus trabalhos e sempre me foi reconhecido o mérito. Nunca houve um dirigente, nunca houve um militante que captasse a minha forma de pensar ou que me impedisse de avançar, portanto, nunca foi um assunto na JP. Obviamente que é no país, obviamente que é naquilo que é a nossa sociedade, mas acho que nós temos é que combater isso com medidas profundas e não tanto por essas notícias do 'clickbait' de ser duas mulheres à candidatura da Juventude Popular.
Esta conversa do é mulher e é candidata ou é mulher e é presidente de uma empresa? Como assim é mulher? Esta discussão está mais do que ultrapassada
Que medidas profundas são essas? Podemos encontrar algo na sua moção que vá neste sentido?
Claro que sim, por exemplo eu sinto que conheço mulheres brilhantes na minha vida, o que há mais é mulheres brilhantes, vamos ser honestas. Das pessoas com mais capacidade que conheço são mulheres, portanto, acho que esta conversa do é mulher e é candidata ou é mulher e é presidente de uma empresa ou é mulher e é empreendedora, como assim? Como assim é mulher? Eu acho que esta discussão está mais do que ultrapassada, parece que estamos todos presos num século... Para mim está ultrapassada, para mim isto é uma não-questão.
Mas a verdade é que os dados mostram que ainda há muita desigualdade.
Lá está, e por isso é que nós temos uma resposta para isso. Eu sinto que há colegas minhas, amigas minhas que, muitas vezes, adiam ser mães porque sentem que se forem mães agora vão ter de condicionar a sua parte laboral, vão ter de adiar a sua carreira, vão ter de ter um condicionamento na sua vida porque querem ser mães. E nós, na nossa moção, apresentamos uma solução que é: o Estado tem de garantir que a mulher consegue ser mãe, por exemplo, com a licença de parentalidade paga a 100%. Garantir que há acordos com as empresas no privado e público-privadas em que a mulher "não tem um bloqueio na sua carreira", não fica prejudicada por tirar aquele tempo da licença ou por escolher ser mãe. Portanto, criámos um conjunto de pacotes, que depois está mais desenvolvido na minha moção, para defender a mulher que quer ser mãe em Portugal. E eu acho que isto sim, esta falta de defesa à mulher, é o que condiciona muitas vezes a mulher não chegar a cargos de chefia ou decisão, porque eventualmente para ser mãe ou para tomar outra decisão de um fórum pessoal ou social teve de parar a sua vida.
Tem de haver um reforço, uma proteção por parte do Estado, à mulher que quer ser mãe em Portugal
Aí está uma prova de que continua a existir desigualdade de género.
Eu sinto que nesses temas sim é preciso falar, essas falhas sim são precisas ser colmatadas, porque a verdade é que a mulher não pode continuar a ser prejudicada naquilo que é a sua vida profissional, naquilo que são as suas opções de carreira porque quer ter uma família. Tem de haver aqui um pacote de ajuda que garanta que a mulher tem o mesmo princípio de equidade que um homem. Porque a verdade é que quando alguém é pai, estas questões não lhe vêm à mente, não pensa 'vou ter de pôr a minha carreira profissional em pausa, vou ter de, talvez adiar, uma promoção, talvez se disser que estou grávida não vou ser contratada'. Tem de haver aqui um reforço, uma proteção por parte do Estado, à mulher que quer ser mãe em Portugal para garantir que estas mulheres que querem constituir família, naquele momento, não adiem para não serem prejudicadas na sua carreira laboral. Eu acredito que se pode ter de tudo, temos é de ter um Estado que permita que se tenha tudo e nestes casos eu acredito na intervenção do Estado.
Fala de um pacote, acredita que a solução está, sobretudo, em medidas fiscais? Além do pagamento da licença a 100%, que já falou, quais são as outras medidas?
Um pouquinho de tudo. Garantir que a licença de parentalidade é paga a 100%, garantir que a partir da 13.ª semana de gestação a mulher tem um abono por parte do Estado, não só para o bebé, mas também para a mulher grávida. Garantir também um apoio psicológico à mulher, não só durante o seu período de gestação, mas também após o parto, porque os dados revelam que a maior parte das mulheres desenvolve uma depressão pós-parto e não há uma continuação de acompanhamento por parte hospitalar. Portanto, queremos reforçar esta linha de apoio psicológico à mulher grávida durante o processo e após o processo. Este subsídio é importante porque sabemos também que o fator económico é uma das principais razões para a mulher adiar ser mãe. Sabemos que há muitas mulheres que o querem ser, mas que sentem que não têm condições económicas para ser mãe e, portanto, adiam. E a verdade é que nós queremos colmatar essa falha. E defendemos também o subsídio do risco clínico. Porquê? Uma mulher que tenha uma gravidez de risco, por exemplo, pode ter de ficar acamada, pode não poder ir trabalhar. E queremos garantir que a mulher que tem uma gravidez de risco tem os apoios necessários para conseguir prosseguir com a gravidez com dignidade.
Achamos um pouco bacoco e um pouco demagógico esta discussão da Interrupção Voluntária da Gravidez. O que temos de falar é de medidas para a vidaVou aproveitar que estamos neste tema para lhe perguntar o que é que pensa sobre a interrupção voluntária da gravidez (IVG)? Concorda com a ideia que foi definida, há uns tempos, por parte de um dirigente do CDS-PP de que deveria haver um novo referendo?
Bem, nós na altura posicionamo-nos, portanto, a Juventude Popular pauta-se por uma defesa da vida. Para nós a vida é um valor inviolável. No entanto, achamos um pouco bacoco e um pouco demagógico esta discussão da Interrupção Voluntária da Gravidez. Para nós o foco e o que deve ser falado na nossa casa da Democracia não é o aumento ou a redução da IVG. Para nós o foco tem de ser a vida. Tem de se falar de medidas para a natalidade. Temos de falar de garantias à mulher que quer ser grávida em Portugal. Nós somos um dos países com uma taxa de natalidade mais baixa da Europa e para nós isso sim é um problema, isso sim é um ponto de discussão. Temos um referendo, tem de ser respeitado, o que temos de falar é de medidas para a vida. Como disse, somos dos países com taxa de natalidade mais baixa da Europa. Como é que isto não é tema na Assembleia da República e é a IVG?
Mas as mulheres não recorrem à Interrupção Voluntária da Gravidez só por falta de vontade em serem mães, há inúmeras questões. Não abre exceções?
Claro que sim, eu acho que as exceções estão previstas na lei.
Então concorda com as exceções que estão previstas na lei, é isto?
Acho que quando coloca em causa a saúde de uma mulher, a saúde da mãe, a vida da mãe, claro que sim. Agora, há uma coisa que é clara, a Juventude Popular defende a vida, para nós é inequívoco, nós vamos sempre defender defender a vida, a vida é inviolável. Para nós aquela discussão que houve na Assembleia da República eu nem quero falar sobre ela, percebe? Para mim isso não é o foco, para mim o foco é construir daqui para a frente. Respeitamos o atual referendo, a partir daqui é falar de medidas para a natalidade, garantias à mulher grávida.
Diz que a sua candidatura "pugna pela defesa da portugalidade e do que significa ser português, sempre com orgulho na História e com respeito pelo legado".
Sim, ou seja, acho que temos de nos relembrar que somos um país com nove séculos de história. Temos um património material e imaterial que tem de ser reconhecido, que tem de ser valorizado. Apresentamos propostas que permitem a sua preservação e este orgulho do que é ser-se português, a nossa portugalidade. Sentimos que estamos na maior luta do século XXI, é um combate social, é esta cultura do 'wokismo', que está um bocadinho a enraizar-se. Não só em Portugal, vê-se até casos mais gravosos pela Europa fora e no resto do mundo.
Sentimos que, ser-se português, a nossa portugalidade, está um bocadinho à venda, sentimos que não há uma defesa intransigente daquilo que é o nosso modo de vida
Mencionou já, inúmeras vezes, a chamada cultura do 'wokismo'. O que quer dizer com combater o 'wokismo'?
Eu acho que combater o 'wokismo' é termos coragem de defender o nosso modo de vida. Pegando aqui num ponto que é fundamental da minha moção que é a imigração. Nós temos uma imigração em Portugal que a nosso ver está desregulada. Temos de garantir que quem entra em Portugal entra com contratos de trabalho que são à 'posteriori' fiscalizados. Temos de garantir que quem entra tem uma verdadeira integração com a sociedade através daquilo que acreditamos que é um Estado de Direito Social. Portanto, a verdade é que sentimos que, ser-se português, a nossa portugalidade, está um bocadinho à venda, sentimos que não há uma defesa intransigente daquilo que é o nosso modo de vida. Olhamos para as nossas cidades do interior do país, olhamos para algumas das zonas da nossa capital, cidades como Porto e Braga, e vemos uma descaracterização daquilo que é a portugalidade. Não quero dizer o termo invasão, mas vemos uma descaracterização. E aquilo que queremos reforçar e aquilo que queremos passar cá para fora é realmente esta defesa daquilo que é a nossa cultura, a valorização daquilo que é o ser-se português, o nosso património, a nossa história. Queremos garantir que a entrada é uma entrada regulada, mas também queremos garantir que quem entra é verdadeiramente integrado, porque lá está, para nós a vida importa sempre. E para nós, por exemplo, não é humanista, não é de integração social, termos num T2, como acontece em variadíssimos casos em Lisboa, 10 a 12 pessoas a habitar. Aquilo que a Juventude Popular quer garantir é que estes casos deixam de existir. Queremos garantir que quem vem viver para Portugal vive de acordo com o nosso modo de vida, que respeita a nossa cultura, que respeita a nossa lei. E é garantindo isto, é garantindo este processo, esta regularização da imigração e de outros fatores, que garantimos a defesa da nossa portugalidade, do nosso meio de vida, da nossa cultura.
Sentimos também que a cultura em Portugal parece que, por vezes, tem donos, mas nós queremos garantir que a cultura não tem donos, não é de esquerda nem é de direita, a cultura pertence a todos os portugueses. Temos um legado que fala por si, o nosso país tem um legado gigante que tem de ser preservado e esta geração atual tem de construir para aqueles que vêm depois de nós, para também sermos dignos de honra.
Há muita coisa que nos separa da extrema-direita. O Chega fala da imigração de uma forma que para mim é muito pouco humanistaO que é que separa esse discurso do discurso da extrema-direita?
Acho que há muita coisa que nos separa da extrema-direita. Somos de direita, o CDS sempre foi aquilo que para mim é a direita que tem sentido. Nós somos centro-direita. Até podemos chamar as coisas pelos nomes, o Chega, por exemplo, o Chega fala da imigração de uma forma que para mim é muito pouco humanista. O que nos separa da extrema-direita é que somos democratas cristãos, para nós toda a gente importa, para nós toda a vida vale e acreditamos na integração social, na reinserção social, que são coisas que a meu ver a extrema-direita não acredita. É isto tudo que nos separa. Separa-nos porque acreditamos numa economia pujante, sim, mas que não deixa as pessoas para trás. Separa-nos porque acreditamos que todas as pessoas valem por sim, pelo seu contributo, separa-nos porque acreditamos numa verdadeira integração na sociedade. Nós não somos contra a imigração, nós somos contra este tipo desregulado de imigração. Temos consciência que os imigrantes fazem falta ao nosso país, fazem falta à nossa economia, mas queremos garantir que também os imigrantes, quando entram, têm ao seu dispor um conjunto de condições, uma garantia da sua integração na nossa sociedade.
Nós não queremos impor a nossa cultura, mas queremos que respeitem a nossa cultura
Mas dizer que devem viver de acordo com o que somos e preservar o património, as nossas raízes, não é colocar barreiras culturais?
Eu acredito no Estado de Direito Social. O que nos distingue, acima de tudo, da extrema-direita é que acreditamos no Estado de Direito Social, acreditamos no princípio da equidade, acreditamos que toda a gente, independentemente de onde venha e da condição social que tenha, pode ser o que quiser no nosso país. Nós não acreditamos no princípio da igualdade, mas sim da equidade. E acreditamos, porque somos profundamente democratas cristãos, que temos de nos ajudar entre si. Portanto, o que nos distingue é esta questão de integração. Nós não queremos impor a nossa cultura, mas queremos que respeitem a nossa cultura. Houve um conjunto de vandalismos ao nosso património, há um conjunto de pessoas a viver na rua, em tendas, cada vez mais...
Mas não são só imigrantes. Quando olhamos para as questões que está a abordar não falamos só de imigrantes, não é?
Claro que não, claro que não. No CDS e na Juventude Popular sempre defendemos o Estado de Direito Social. Acreditamos que a intervenção do Estado é necessária nestes casos. Temos uma obrigação, uma responsabilidade cívica na política de ajudar quem precisa. A política são pessoas. Eu acho que isto é o grande chavão, é que política são pessoas. Independentemente de onde venham e das condições que tenham. Acho que é isto que nos difere da extrema-direita, é a nossa vertente humanista, a nossa vertente personalista. Esta questão da cultura não é uma imposição da nossa cultura, nem do nosso modo de vida. Queremos é garantir que há uma linha bastante definida naquilo que é a proteção à nossa cultura, a proteção ao nosso modo de vida, que seja respeitado. Não queremos é que haja uma violação daquilo que é a nossa portugalidade. Não é impor. Sempre fomos um país de portas abertas, sempre fomos um país com muita história em todo o mundo, somos um país com uma multiculturalidade muito presente, portanto, eu acho que Portugal e imposição de Cultura nunca poderiam estar na mesma frase.
Sinto que há uma falta de ligação da minha geração e da futura ao Exército, à Defesa. Estamos aqui num cantinho do mundo muito protegido, mas a verdade é que o panorama internacional está a mudar
Nas páginas da sua candidatura fala também muito de Educação. Diz querer a introdução "do serviço cívico no sistema educativo, onde todos possam ter acesso a competências militares e de proteção civil necessárias à realidade atual". Como é que isto se concretiza?
A nível internacional estamos numa grande fase de mudança e vê-se agora com a eleição do novo presidente dos Estados Unidos da América, acho que isto tem uma mensagem muito clara para a Europa: a Europa tem de ser independente na sua Defesa, não podemos continuar tão dependentes do nosso grande parceiro para encontrar uma Defesa. Sinto que há uma falta de ligação da minha geração e da futura ao Exército, à Defesa. Estamos aqui num cantinho do mundo muito protegido, mas a verdade é que o panorama internacional está a mudar. Isso foi um dos temas que falámos, mas que realmente não está na nossa moção.
Na questão da educação, aquilo que sentimos é que tem que haver um novo paradigma da forma como se educa em Portugal. Queremos dar uma maior liberdade às universidades, uma valorização do ensino profissional e quando falamos de literacia cultural, literacia financeira e, neste caso, esta responsabilidade mais cívica nas nossas escolas, é porque sentimos que temos que estar preparados para o que pode vir a ser uma guerra. Portanto, não quer dizer que vá acontecer, mas sentimos que os jovens têm que ter aquele conhecimento mínimo de como é que teríamos que nos comportar num estado de calamidade. É mais chamar à responsabilidade.
Mas quando falou de competências militares, o que é que no fundo estava a defender?
Acho que criarmos parcerias entre as escolas e o exército português e, de uma forma muito ténue e muito periódica, haver aqueles cursos de formação entre os nossos estudantes e aquilo que é a Defesa. É aquele conhecimento básico que todo aluno, que todo estudante em Portugal tem de saber - a nossa Defesa enquanto país, a nossa Defesa enquanto Estado-Membro da União Europeia. Sentimos que há muito esta desaproximação do jovem a estes temas que cada vez mais são sensíveis. Trata-se de abrir portas a esta temática, de informar os jovens sobre tudo aquilo que é a situação geopolítica à nossa volta.
Acho que a solução para aumentar a participação e para os jovens se sentirem atraídos em ir para o Exército e perseguir lá a sua carreira profissional, não é a imposição do regime militar. Trata-se sim de criar incentivos
Concorda com o regresso do serviço militar obrigatório?
Não acho que estejamos agora numa fase de impor o regime militar obrigatório, acho que temos de fazer uma coisa diferente. Acho que a solução para aumentar a participação e para os jovens se sentirem atraídos em ir para o Exército e perseguir lá a sua carreira profissional, não é a imposição do regime militar. Trata-se sim de criar incentivos e condições de progressão de carreira, de condições de trabalho, de ver o Exército como uma verdadeira opção e com uma carreira com viabilidade e com dignidade. Temos de valorizar as Forças Armadas, garantir benefícios.
A minha principal motivação nesta campanha é demonstrar a todos os jovens deste país, desta geração, que eles são da Juventude popular, que isto é a geração da Juventude Popular
Voltando um pouco ao projeto que tem para a Juventude Popular, pergunto-lhe: como define o jovem que a JP deve representar?
Qual é que é o jovem que a Juventude Popular tem a obrigação de representar? Temos de representar todos os jovens que trabalham em Portugal. Temos de representar todos os jovens que estudam em Portugal, todos os jovens que, por exemplo, são do interior do país e que são estudantes deslocados, os jovens que têm uma visão de direita em Portugal, os jovens que veem o país de uma forma um bocadinho diferente daquela que está cá hoje. Eu acredito que esta geração, a minha geração, é a geração da Juventude Popular. Só que ainda não sabem. E a minha principal motivação nesta campanha, e a minha principal motivação para liderar a Juventude Popular, é demonstrar a todos os jovens deste país, desta geração, que eles são da Juventude popular, que isto é a geração da Juventude Popular.
Que características é que identifica que a levam a dizer que esta é a geração da Juventude Popular?
Sinto que é uma geração que gosta muito do seu país, que tem um orgulho imensurável em ser-se português. É uma geração que quer ficar, é uma geração que não quer emigrar, é uma geração que quer constituir vida e família em Portugal, só quer é que Portugal o permita, quer que os jovens sejam valorizados. E para serem valorizados temos de ter bons salários, para termos bons salários temos de ter empresas que não estejam nesta asfixia de impostos. Acima de tudo, é uma geração que é empreendedora. Queremos dar uma resposta aos jovens que são agricultores, aos jovens artistas, da cultura, que necessitam de uma vida condigna, aos jovens descentralizados pelo país, que estão a estudar áreas que não há no seu distrito... Eu sei que esta geração é a geração da Juventude Popular porque a JP é uma organização política com um ideal de país para todos os jovens. Não há jovens de bem nem jovens de mal, não há jovens do litoral nem do interior, há jovens em Portugal que precisam de uma solução e nós queremo-la oferecer. Queremos abrir portas com eventos nacionais participados também por pessoas que não são filiadas, porque isto é muito mais do que uma questão de militância, isto é um ideal de país.
Sei que o CDS-PP está garantido a partir do momento em que tem uma juventude tão forte
Acha que é também a geração do CDS? Acha que o CDS está aberto a essa renovação?
Claro que sim. Isto é muito claro, a JP é o futuro do CDS-PP. O partido renova-se na Juventude Popular, nós somos a voz da consciência do partido. Eu sei que o partido está garantido a partir do momento em que tem uma juventude tão forte, tão concisa e com um objetivo tão comum. Eu acho que isto é a geração da Juventude Popular e é o amanhã do CDS-PP. Sei que o amanhã do partido está garantido neste presente.
O CDS-PP não se afunila só nessas principais caras que são mais conhecidas a nível nacional
Quando olhamos para o CDS, para os seus líderes, a verdade é que vemos dirigentes de há muitos anos, são caras que conhecemos há algum tempo - sem lhes tirar mérito. Recentemente, Francisco Rodrigues dos Santos foi a cara mais jovem à frente do partido. Acredita que este CDS-PP vai ter a porta aberta?
Acredito plenamente que vamos ter a porta aberta. Acredito que o partido reconhece na Juventude Popular uma importância fulcral. O partido sabe e tem consciência que somos a garantia do CDS no futuro. No fim do dia, somos todos CDS, temos um projeto comum ao país. A verdade é que as caras mais conhecidas realmente já são de há algum tempo, mas há tantas mais caras no CDS-PP. O CDS-PP não é um partido que se afunila naquilo que são as representações nacionais, somos um partido que está presente em todos os concelhos, em todos os distritos do país. Temos 50 anos de história e um legado que fala mesmo por si. E isso reflete-se, agora, nas autárquicas. A Juventude Popular é uma juventude que tem mais de 90 autarcas, portanto, temos sim esta atração no partido, o partido deposita-nos esta confiança, e não é por uma questão de sermos a JP, é por uma questão de sermos muito bons naquilo que fazemos, por termos muitos bons quadros jovens. Mas dizer de forma muito clara: o partido não se afunila só nessas principais caras que são mais conhecidas a nível nacional, mas a nível local, de estrutura, há muitas novas caras do CDS-PP e muitas delas vieram e são da Juventude Popular.
Nunca fiz assessoria jurídica na minha vida
Não posso terminar sem a interrogar sobre um outro tema. Nos últimos tempos o seu nome foi abordado por vários meios de comunicação devido a uma polémica que a envolve, mas também a Joana Oliveira Costa que a contratou para "assessoria jurídica" na Câmara de Lisboa, embora não tenha terminado a licenciatura em Direito. Continua na equipa de assessores do vereador Diogo Moura, contratada em janeiro, e é uma das que vai auferir mais, numa equipa que custa perto de 220 mil euros por ano. Falou há pouco de uma geração que enfrenta muitas dificuldades, como é que acha que os jovens vêm esta controvérsia?
Bem, eu nunca fiz assessoria jurídica na minha vida. Eu sou finalista da licenciatura de Direito, portanto, obviamente que não sendo jurista não poderia fazer assessoria jurídica, nunca fui contratada nesse âmbito, nem com esse propósito, mas sim para assessoria política e na questão de espaço público. Não percebi o porquê daquela notícia, não percebi qual é que foi a fundamentação, o gabinete próprio admitiu que foi um lapso na elaboração do contrato. Isso já foi resolvido. Mas pronto, quando nos candidatamos estamos sujeitos a que notícias saiam sobre nós, sendo elas com um pouco mais de verdade ou com um pouco menos, mas é o que é, não tenho problema nenhum em responder a esta temática, porque, na verdade, também sei que estou sujeita a isso.
Não faz sentido nenhum ser tema em Portugal quando um jovem é bem remunerado. O tema em Portugal devia ser porque é que não há bons salários para os jovens em Portugal
Mas para ficar claro: no momento presente, tem um cargo na autarquia.
Acho que isto tem de ficar bastante claro, o meu trabalho é de uma forma de vida privada. Sei bastante bem quais são as minhas competências e a minha meritocracia para estar onde estou. Não fui chamada por ser da Jota, nem fui chamada por ser candidata. Nós na Juventude Popular sempre fomos completamente livres, completamente soltos e não fazemos política para cargos no partido. Eu sempre fiz JP, desde o meus 15 anos, recusei bastantes propostas porque sabia que não era adequado para mim, apesar de ter mérito para lá estar, mas sempre tive muita consciência daquilo que valho enquanto pessoa e enquanto profissional. Portanto, a partir do momento em que aceitei, aceitei porque estava com todas as faculdades para o aceitar e sabia que o meu contributo era e é relevante, e, por ser relevante, continuo. O que é que diz aos jovens? Diz aos jovens que não faz sentido nenhum ser tema em Portugal quando um jovem é bem remunerado. O tema em Portugal devia ser porque é que não há bons salários para os jovens em Portugal e é a isso que queremos responder. Queremos que todos os jovens tenham bons salários e que todos os jovens tenham possibilidade de progressão na carreira. Acho que percebo que seja tema devido à exposição que com esta campanha tive, mas a verdade é que a notícia é falaciosa, diz uma coisa que não é verdade e é do meu âmbito privado. Não sei muito bem o que é que é suposto dizer ao país do meu fórum privado. O que posso dizer é que basicamente não tenho de ser eu a responder, mas quem me contratou e quem decidiu ficar comigo na equipa. São pessoas que reconheceram em mim o mérito e o trabalho. O meu trabalho está à vista. Aquilo que eu faço, aquilo que eu coordeno está bem e está bem feito.
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