"Esta viragem à direita e o crescimento da AfD [Alternativa para a Alemanha] fazem-nos antecipar tempos difíceis para a Europa, tempos difíceis para a democracia europeia. Também sabemos que não é só na Alemanha que cresce a extrema-direita", alertou Mariana Mortágua, que falava aos jornalistas na sede nacional do BE, em Lisboa.
A bloquista reagia aos resultados das eleições legislativas alemãs, ganhas pela CDU com 28,6% dos votos. A formação de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) tornou-se a segunda força no país com 20,8% dos votos.
Na opinião de Mariana Mortágua, estes resultados confirmam uma "viragem à direita" na Europa e mostram que "a cedência à extrema-direita" pelos partidos do centro aos temas da extrema-direita "só faz crescer" estes estas forças políticas.
Contudo, a coordenadora do BE salientou que o resultado do partido A Esquerda (Die Linke), que alcançou cerca de 8,8%, acima dos 4,9% de 2012, surge neste cenário como um sinal de "esperança".
"O Die Linke duplica os seus votos com um importante resultado, sendo hoje visto como uma alternativa e uma resistência à extrema-direita e uma fonte de esperança no futuro, porque teve uma campanha muito corajosa sobre temas em que todos os outros vacilaram", batendo-se pela autodeterminação do Estado da Palestina ou combatendo o "discurso xenófobo" da extrema-direita sobre imigração, enumerou.
Interrogada sobre o facto de o ciclo político português ter por vezes algum atraso em relação ao de outros países, Mariana Mortágua defendeu que tal "não se traduz numa inevitabilidade".
"Não é inevitável que a extrema-direita cresça em Portugal e que vá para além dos passos que já conquistou, e que já é muito", defendeu, realçando que esse suposto atraso até pode funcionar como forma de o país "aprender com eles".
A nível nacional, Mariana Mortágua insistiu nas críticas ao PSD mas também ao PS que acusou de "incorporarem os temas da extrema-direita", normalizando o seu discurso.
"Ou seja: portas escancaradas na imigração, controlos à imigração, uma associação entre a imigração e a segurança, «fomos longe demais no feminismo», «fomos longe demais nos direitos às pessoas LGBT», «temos que parar de falar dos direitos das pessoas porque isso não interessa». Todas estas cedências contribuem para o crescimento da extrema-direita ", criticou.
Mariana Mortágua abordou ainda o conflito na Ucrânia, cuja invasão pela Federação Russa teve início há exatamente três anos, considerando que a União Europeia está "completamente paralisada e em estupefação" perante o atual cenário internacional, após a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos da América (EUA).
"A União Europeia tem de ter um papel de autonomia estratégica e isso quer dizer que quem trará a paz à Ucrânia não é nem Trump, nem é a NATO, nem Putin. Quem trará a paz à Ucrânia são as negociações que devem acontecer sob a égide e o patrocínio da Organização das Nações Unidas (ONU)", apelou.
A bloquista defendeu ainda que o Governo português "faria melhor" se ouvisse o secretário-geral da ONU, António Guterres, sobre temas como a Ucrânia mas também em relação às alterações climáticas, ou quanto à autodeterminação da Palestina.
"Era importante que a União Europeia pudesse ter uma estratégia autónoma e que o Estado português pudesse contribuir para ela. António Guterres seria certamente um bom conselheiro de Luís Montenegro para todas estas questões", considerou.
[Notícia atualizada às 17h12]
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