Uma fonte militar de Damasco acusou a milícia xiita libanesa Hezbollah de disparar cinco projéteis de artilharia contra posições militares sírias na zona de Al Qusayr, a leste da província de Homs, e já na noite de hoje em frente à cidade de Hawsh al Sayed Ali, onde ocorreram confrontos em março.
A fonte, citada pela agência noticiosa oficial síria SANA, afirmou que as forças sírias "atacaram imediatamente as fontes de fogo", embora logo cessaram os seus "ataques (...) dentro do território libanês a pedido do Exército libanês" e depois de os militares libaneses "se terem comprometido a vasculhar a área e a perseguir os grupos terroristas responsáveis pelo ataque ao território sírio".
As autoridades libanesas não comentaram estas alegações, embora a Agência Nacional de Notícias (NNA) tenha noticiado que "oito sírios deslocados ficaram feridos quando um 'drone' carregado de explosivos explodiu numa quinta em Hawsh al-Sayed Ali".
Salientaram ainda que "o Exército [libanês] enviou rapidamente reforços para a área após ouvir uma troca de tiros", sem fornecer mais detalhes.
Os ministros da Defesa do Líbano e da Síria assinaram um acordo na Arábia Saudita no mês passado para lidar com ameaças militares e de segurança ao longo da fronteira, depois de confrontos que fizeram 10 mortos, prevendo a ativação de mecanismos de coordenação para lidar com ameaças militares e de segurança.
Este último confronto ocorre dez dias depois de o primeiro-ministro libanês Nawaf Salam ter visitado o Presidente interino sírio Ahmed al-Charaa em Damasco para abrir uma "nova página" nas tensas relações bilaterais, a primeira visita deste tipo desde a queda de Bashar al-Assad.
A zona onde ocorreu o último confronto --- Hawsh al-Sayed Ali, na zona libanesa de Hermel e perto da cidade síria de Al-Qusir --- foi palco de violentas trocas de tiros entre os dois países em março, após a morte de três soldados sírios num alegado ataque do Hezbollah.
Este grupo xiita enviou milhares de combatentes para a Síria para apoiar o seu aliado Assad e, durante anos, controlou grande parte da fronteira partilhada, transportando alegadas armas iranianas com a colaboração de milícias sírias pró-governamentais.
A sua influência na Síria terminou com a queda de Assad no início de dezembro de 2024.
As capacidades do Hezbollah foram também degradadas no Líbano pelos bombardeamentos israelitas e pelo acordo de cessar-fogo de novembro entre o Líbano e Israel, que envolveu o desarmamento do grupo xiita.
O Líbano e a Síria partilham uma fronteira porosa de 330 quilómetros, conhecida pelo contrabando de mercadorias, pessoas e armas.
O Governo do Líbano convocou hoje o embaixador do Irão em Beirute, Mojtaba Amani, para explicar declarações recentes sobre o desarmamento do grupo pró-iraniano Hezbollah, anunciou o Ministério dos Negócios Estrangeiros libanês.
Amani afirmou na semana passada, numa declaração nas redes sociais, que o plano de desarmamento das autoridades libanesas era uma "conspiração contra certos Estados", sem especificar quais nem nomear o Hezbollah.
A diplomacia libanesa informou Amani de que "deve respeitar os princípios diplomáticos" relativos "à não-ingerência nos assuntos internos", segundo um comunicado do ministério citado pela agência de notícias France-Presse (AFP).
A embaixada iraniana em Beirute disse hoje que Amani tinha prestado esclarecimentos às autoridades libanesas, referindo-se a declarações de "âmbito geral", e que tinha viajado para evitar qualquer "mal-entendido entre os dois países".
Os Estados Unidos, aliados de Israel, estão a pressionar para o desarmamento do Hezbollah, que se recusa a discutir a entrega das armas enquanto o exército israelita não se retirar completamente do Líbano.
O Hezbollah é a única fação que conservou as armas após a guerra civil no Líbano (1975-1990).
Um acordo de tréguas assinado em 27 de novembro prevê que o exército libanês e as Nações Unidas sejam as únicas forças armadas que permanecem no sul do Líbano.
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