Em declarações à agência noticiosa France-Presse (AFP), Kaja Kallas afirmou que as sucessivas violações à trégua anunciada unilateralmente pelo líder do Kremlin e aceite por Kyiv mostram que "a Rússia está a brincar, a tentar ganhar tempo e não quer realmente a paz".
Segundo a alta-representante da UE para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança, as autoridades de Kyiv e os seus aliados europeus esperavam que Washington adotasse uma linha mais dura em relação a Moscovo.
"Eles têm as ferramentas para realmente pressionar a Rússia. Porque não as usam para acabar com esta guerra?", questionou.
Ao mesmo tempo, Kaja Kallas observou que o anúncio da Rússia de uma trégua de 30 horas no fim de semana foi um estratagema para evitar que o Presidente norte-americano "perdesse a paciência" com o Kremlin.
"Eles pensam que o tempo está do lado deles, por isso não estão a enviar nenhum sinal positivo, não estão a mostrar nenhuma boa vontade", criticou.
O Presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, desafiou o homólogo russo a aceitar um cessar-fogo de 30 dias nos ataques aéreos com 'drones' e mísseis contra infraestruturas civis.
A proposta foi apresentada no domingo à noite, poucas horas antes de expirar uma trégua no período da Páscoa, declarada unilateralmente por Putin, mas marcada por acusações de centenas de violações de parte a parte.
O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, declarou hoje que não há planos concretos sobre negociações com Kyiv, mas indicou que Putin está disposto a dialogar.
O Presidente russo disse na segunda-feira que vai analisar a proposta de moratória, enquanto acusava as forças ucranianas de ocuparem frequentemente posições em instalações civis, o que as torna em alvos militares.
Para quarta-feira, em Londres, está prevista a segunda reunião de representantes de Kyiv com parceiros ocidentais, visando garantir um cessar-fogo com a Rússia, segundo referiu uma alta autoridade ucraniana à AFP, apesar de a data ainda não ter sido anunciada oficialmente.
Na semana passada, ucranianos, norte-americanos, franceses e britânicos reuniram-se em Paris, pela primeira vez neste formato, numa altura em que as negociações para um cessar-fogo iniciadas por Washington estão estagnadas e os europeus querem impor a sua voz.
As conversações decorrem numa altura em que a Rússia retomou os ataques aéreos após o breve cessar-fogo de 30 horas na Páscoa.
A trégua pascal e a proposta de Zelensky seguem-se a declarações do Presidente norte-americano, Donald Trump, na sexta-feira, sugerindo que, se não houver progressos nas negociações indiretas com Moscovo e Kyiv numa "questão de dias", Washington poderá abandonar o processo de paz na Ucrânia.
Já no domingo, o líder da Casa Branca disse esperar um acordo "dentro de uma semana" e sugeriu às duas partes que "poderão então fazer bons negócios com os Estados Unidos, que estão a crescer, e ganhar uma fortuna".
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