"Já tivemos um que falava espanhol. Percebo que não pode continuar na América, mas e se o novo Papa falasse português?" -- questionou João Pellegrini, de Belo Horizonte, que está em Roma num grupo de peregrinos da diocese brasileira.
O grupo concorda com a proposta e questiona a Lusa sobre quais as hipóteses dos cardeais portugueses na bolsa dos 'papabilli' (cardeais com possibilidade de serem eleitos papas).
"Há um que está cá e que é bom não é? Ele é um poeta muito conhecido. A minha irmã já leu umas coisas deles", insistiu Ana Francisca, do mesmo grupo, que estava na fila para os Museus do Vaticano.
Ana Francisca referia-se ao madeirense Tolentino de Mendonça, 59 anos, Prémio Pessoa e Eduardo Lourenço e prefeito do Dicastério para a Cultura e a Educação, um cargo que mostra a sua importância na Cúria romana e um percurso emergente junto do Papa Francisco, passando de padre a cardeal em pouco mais de um ano.
Andrea, 32 anos, tem outra opinião: "Já houve uma boa escolha com um argentino, deveriam continuar por cá e escolher outro latino", diz a chilena, que vive em Roma e está a acompanhar conterrâneos pelas ruas adjacentes da Praça de São Pedro.
Francisco tem nome de papa mas apenas 47 anos e vive em Roma. "A cadeira de Pedro deveria voltar a um italiano. Somos hoje uma igreja progressista que é hoje muito diferente do tempo de Ratzinger".
A sua escolha, se pudesse, seria Matteo Zuppi, cardeal-arcebispo de Bolonha e presidente da Conferência Episcopal Italiana, considerado o mais progressista de todos os 'papabili'.
O sul-sudanês Ibrahim quer um africano. "Pode ser um qualquer, mas é importante que África seja ouvida através da Igreja".
Já o filipino Manoel reza pela eleição de Luis Antonio Tagle, um dos mais próximos de Francisco.
"Se houver um Papa asiático, terá de ser filipino. Somos o maior país católico daqui", justificou.
Mas no grupo de brasileiros, o sonho continua a ser que João Braz de Avis seja eleito, um nome que não consta das listas de quem segue a Santa Sé.
O prefeito emérito do Dicastério para os Institutos de Vida Consagrada é defensor da teologia da libertação, um movimento católico de esquerda que foi duramente reprimido por Bento XVI quando estava à frente da Congregação para a Doutrina da Fé.
"Seria a continuação natural de Francisco. Uma Igreja para os mais pobres que foi como Cristo quis", resumiu João Pellegrini.
O Papa Francisco morreu na segunda-feira aos 88 anos, de AVC, após 12 anos de pontificado.
Na quarta-feira, o seu corpo será colocado na basílica de São Pedro para que os fiéis o possam velar antes das cerimónias fúnebres de sábado.
Por isso, independentemente de quem será o candidato preferido, os peregrinos querem ainda homenagear o jesuíta argentino.
"Claro que vou lá estar. Ele foi o nosso Papa. E olhe que, para mim, é difícil dizer isto de um argentino", disse João Pellegrini.
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