Num discurso privado em Washington, citado pela AP, Bessent assumiu que as negociações com a China serão um desafio e sublinhou que as conversações entre os dos países ainda não começaram formalmente.
Num anúncio que designou por "Dia da Libertação", a 02 de abril, o Presidente norte-americano, Donald Trump, impôs taxas adicionais à importação de produtos da China, aumentando-as posteriormente até de 145%.
Em algumas importações da China, como as de veículos eléctricos, as tarifas totais aplicadas atingem agora os 245%.
Os EUA decidiram isentar muitos produtos eletrónicos chineses das tarifas, embora Trump tenha anunciado a aplicação de taxas sobre semicondutores "num futuro próximo".
A China contra-atacou com tarifas sobre os produtos norte-americanos que chegam agora a 125%.
A imposição de tarifas, que visou várias dezenas de países, provocou a queda do mercado bolsista e o aumento das taxas de juro da dívida norte-americana, com os investidores a recearem um crescimento económico mais lento -- ou mesmo uma recessão - e pressões inflacionistas mais elevadas.
Os pormenores do discurso do secretário do Tesouro foram confirmados à AP por dois participantes no encontro com Bessent, que falaram sob anonimato.
"Nenhum dos lados [EUA e China] pensa que o 'status quo' é sustentável", referiu Bessent, de acordo com uma transcrição obtida pela The Associated Press.
As chamadas tarifas "recíprocas" de Trump acima de um patamar de 10% foram suspensas por 90 dias para todos os outros países exceto a China, com a Casa Branca a abrir a porta à negociação.
Sob pressão dos mercados, a Administração Trump reuniu-se para conversações com Japão, Índia, Coreia do Sul, União Europeia, Canadá e México, entre outras nações.
Contudo, Trump não deu qualquer indicação pública de que planeia retirar a sua tarifa de base de 10% sobre importações, insistindo que pretende que outras nações reduzam as tarifas e eliminem barreiras não tarifárias aplicadas a produtos norte-americanos.
Também hoje, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karoline Leavitt, disse aos jornalistas que Trump lhe transmitiu que os contactos para um "potencial acordo comercial com a China" decorrem "muito bem".
A Administração Trump, adiantou, recebeu 18 propostas de outros países para acordos comerciais e "todos os envolvidos querem ver um acordo comercial acontecer" e esta semana foram agendadas "34 reuniões" com vários países.
Trump disse na semana passada que dentro de "três a quatro semanas" poderão ser alcançados acordos tarifários com parceiros comerciais e indicou que a sua administração já está a falar com representantes chineses numa tentativa de chegar a um acordo também com Pequim.
Na segunda-feira, o Ministério do Comércio chinês disse em comunicado que os Estados Unidos "têm abusado das tarifas sobre os parceiros comerciais sob a bandeira da 'reciprocidade'" e "forçaram todas as partes a manter negociações" com Washington.
O ministério afirmou que "respeita os esforços de todas as partes para resolver as diferenças económicas e comerciais com os Estados Unidos através de consultas justas", mas acrescentou que devem "adotar uma postura de equidade, justiça e correção histórica" e "defender as regras económicas e comerciais internacionais e o sistema comercial multilateral".
O ministério acusou ainda os EUA de "promoverem uma política hegemónica e de implementarem uma intimidação unilateral no domínio económico e comercial", advertindo que "o apaziguamento não trará a paz" e que "os acordos não serão respeitados".
A China apenas reconheceu, através do seu ministério, que mantém uma "comunicação constante a nível de trabalho" com os seus homólogos norte-americanos, sublinhando que Pequim está "aberta a consultas" com Washington se estas se basearem no "respeito mútuo".
A incerteza nos mercados financeiros com a política comercial de Trump foi ampliada com apelos do Presidente à Reserva Federal (Fed) para cortar sua taxa de juros de referência, e mesmo a ameaçar demitir o presidente do regulador independente, Jerome Powell.
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