Falando aos jornalistas à margem de manifestações que assinalaram o Dia Internacional da Mulher, em Lisboa, os líderes destes partidos de esquerda vincaram que o principal responsável pela crise política é o primeiro-ministro, que não deu as explicações suficientes no tempo certo.
"O que se sabe hoje é suficiente para concluir que o primeiro-ministro teve uma atuação incompatível com o cargo de governação que tinha, e daí não querer explicar mais, porque há coisas que não têm explicação", disse Paulo Raimundo, que integrou a manifestação convocada pelo Movimento Democrático de Mulheres (MDM), em Lisboa.
"A solução era, no sábado passado, em vez de fazer propaganda, dizer que 'pus o pé na poça e demito-me', e saía de forma digna, mas assim só acrescentou um problema ao problema", afirmou o secretário-geral comunista.
Para Mariana Mortágua, "Luís Montenegro quis muito, procurou muito, um motivo, uma oportunidade para eleições, mas escolheu o pior momento para o fazer, porque é um motivo que põe em causa a sua própria legitimidade enquanto primeiro-ministro", disse a bloquista, à margem de uma manifestação convocada pela Plataforma Feminista e a Rede 8 de Março, no Marquês de Pombal, Lisboa.
Mariana Mortágua considerou que "mais do que jogos políticos, o que as mulheres querem é respostas concretas sobre como pagam a casa, como cuidam dos familiares quando o Serviço Nacional de Saúde não dá reposta ou como aumentar os salários face à desigualdade".
Para a líder do Bloco de Esquerda, o primeiro-ministro está a "brincar com o país, vai para a frente, vem para trás, apresenta moção de confiança, não apresenta, depois faz desafios sobre comissão de inquérito e moção de confiança, é uma brincadeira lamentável".
Na mesma linha, a porta-voz do PAN, Inês de Sousa Real, afirmou que Portugal "está a assistir a um braço de ferro entre Luís Montenegro de Pedro Nuno Santos, lideranças masculinas que mostram que precisamos de mais lideranças no feminino e de ter outra visão que prioritize o que é importante para as pessoas".
A porta-voz do Partido Pessoas-Animais-Natureza lamentou "que o primeiro-ministro não tenha dado os esclarecimentos necessários ao país e ao parlamento no tempo certo".
Para a líder parlamentar do Livre, Isabel Mendes Lopes, Luís Montenegro "escolheu não prestar esclarecimentos no tempo devido e deixou enrolar a situação, com mais dúvidas, e não esclareceu nem percebeu que tem um grande problema de confiança do país".
Assumindo como certa a realização de eleições a curto prazo, Isabel Mendes Lopes disse que o Livre está "preparado para qualquer cenário", com a expectativa de um novo parlamento, "mais saudável, menos agressivo e mais focado em resolver os problemas das pessoas".
O Presidente da República admitiu na quarta-feira eleições antecipadas em maio, no final de um dia em que o primeiro-ministro anunciou uma moção de confiança, entretanto já aprovada em Conselho de Ministros - que tem chumbo prometido dos dois maiores partidos da oposição, PS e Chega, e que deverá ditar a queda do Governo na próxima semana.
Se a moção for rejeitada no parlamento, o Presidente da República convocará de imediato os partidos ao Palácio de Belém "se possível para o dia seguinte" e o Conselho de Estado "para dois dias depois", admitindo eleições entre 11 ou 18 de maio.
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